Quanto mais tenho contato com os cães, seus donos e suas histórias, experiências e dificuldades, mais tenho certeza de que nada é por acaso. Layla chegou para nos ensinar. Ela foi uma golden retriever que viveu nove intensos meses. Seus donos me ligaram quando ela tinha três meses e meio porque estava “espoleta”. Pulava muito, corria e subia no sofá, enfim, tocava o terror no apartamento.
Me lembro tão claramente do primeiro dia de aula. Ela era mesmo maluquinha… Tão intensa em tudo, cada movimento, a vontade de treinar, a vontade de acertar, a vontade de comer, a vontade de pular! Sabe aquele cão que parece que tem tanta energia que não cabe no corpinho de filhote? Foram cinco meses de treinamento e Layla já estava super comportada, dormindo solta pelo apartamento, não pegava nem destruía nada, estava uma graça. Seus donos se dedicaram muito ao treinamento. Costumo passar lição de casa para meus clientes e quando eu voltava na semana seguinte, eles tinham feito tudo direitinho. Dava para ver claramente a dedicação deles no próprio comportamento da cachorrinha, que melhorava a olhos vistos e aprendia muito rápido. Até eu ficava empolgada e alongava a aula em quase meia hora! É raro encontrar pessoas tão dedicadas e comprometidas com seus pets e depois fui entender. Layla não era o bichinho de estimação deles, ela veio como se fosse uma filha. É como eu sentia que eles se dedicavam a ela.
Por uma fatalidade infelizmente perdemos Layla há quinze dias. Eu me perguntei várias vezes o por que, justo eles, justo ela. Nossa última aula foi no shopping, ela e o dono passeando na frente e eu dando instruções atrás, junto com a dona. Nós ríamos muito olhando eles dois andando na nossa frente, porque ela rebolava demais! Estava se exibindo lá com ele, foi engraçado. A próxima aula seria novamente no shopping para que a dona treinasse.
Fui visitá-los novamente uma semana depois da perda e acredito que tenha sido tão importante para eles quanto para mim, ir para o apartamento pela primeira vez sem ela me esperar na porta (ela estava aprendendo a receber visitas). Por que uma vida tão curta? Essa é uma pergunta simples mas acredito que iremos receber respostas por muito tempo.
Posso dizer que com certeza aprendi lições que consegui enxergar somente através da Layla e dos donos dela: viver intensamente, não deixar as coisas para depois nunca. Fazer o que tenho vontade de fazer sem me preocupar se vou perder tempo com isso, ser feliz agora e demonstrar para as pessoas que amo o que sinto agora. Isso me fez mudar. Já fazia três anos que não via minhas amigas de infância, e no final de semana passado fui no aniversário de uma delas, fui na casa de pessoas que eu não via a algum tempo e na Páscoa vou para uma reunião de família, rever pessoas que não vejo há mais de dois anos. Não vou mais deixar isso acontecer, não importa o quanto esteja trabalhando.
Esta família também me ensinou outra coisa muito importante. Me entregar, não ter medo de me entregar. Eu havia comentado com o Leo várias vezes como os donos da Layla se abriram para receber ela, em como eles mudaram a rotina, abriram realmente o coração e se entregaram para ela e ela fez o mesmo. Os cães sempre fazem isso, eles estão conosco de verdade, prá o que der e vier. Quando recebi a notícia não pude nem imaginar o tamanho da dor que eles estavam sentindo. Mas vi que vivendo assim, você sempre está presente, de corpo inteiro, de coração, no que quer que faça, no que quer que sinta. Isso deu um novo significado ao sentido de ‘viver a vida’ para mim.
Fico imensamente grata por ter conhecido os três e ter tido oportunidade de aprender de forma tão rica e intensa. Com certeza aprendi muito mais do que ensinei.
Layla adolescente