Parece meio óbvio que os cães se comunicam através de uma rica e detalhada linguagem corporal, mas você sabia que nós podemos nos comunicar com eles dessa forma também?
Quando mostro às pessoas elas me dizem primeiro: – ÓOOOhhh. E depois: – Dããã, como não pensei nisso antes?
Não é óbvio, simplesmente porque nós humanos nos comunicamos verbalmente, temos uma linguagem falada e nos concentramos muito nela durante a comunicação. Também temos uma linguagem corporal, mas é raro nos darmos conta dela. Os experts em linguagem corporal humana podem se sair muito bem em uma análise de perfil, entrevista ou negociação, pois conseguem perceber o que a pessoa realmente está sentindo e querendo, que pode ser o contrário do que ela está dizendo. É sutil, e nos cães é sutil vezes mil.
No Agility a linguagem corporal é essencial, principalmente o direcionamento dos ombros. Como a maioria das pessoas não se dá conta disto, acabam mandando o cão para o obstáculo errado, ou fazendo com que ele desenvolva uma trajetória muito aberta, e a culpa… é do cão.
Os cães são verdadeiros experts nessa leitura corporal. É impressionante. Você já pensou em como eles decidem qual o posicionamento de cada um em uma caçada? Quando um pára e o outro continua? Para onde a presa deve ser direcionada?
Ontem eu estava fazendo uns testes com a Radha, enquanto lavava o quintal. Ela adora perseguir a mangueira e fica ‘mordendo’a água no ar, como um típico border collie. E aí eu comecei a diferenciar para ela quando poderia brincar de pegar a água e quando teria que se afastar para que eu continuasse a lavar o quintal em paz. Usei a brincadeira como recompensa pelo afastamento quando eu pedia.
Comecei a brincar com ela e no auge da empolgação disse: – Prá fora (que é um comando que ela já entende, que precisa parar e se distanciar) e ela não respondeu muito bem pois estava focada na água. Eu usei o bloqueio com o corpo e ao mesmo tempo coloquei a água da mangueira para escorrer na parede, retirando o estímulo visual e principalmente, não deixando que ela fosse recompensada.
Assim que ela parava e acalmava, eu recompensava novamente com a brincadeira, sempre dizendo Vem! como marcador de permissão. Com algumas repetições ela já tinha entendido o que eu queria e estava fazendo bonitinha.
Aí comecei a usar uma linguagem corporal mais sutil, tentando fazer com que o comando para ir brincar ou para se afastar fosse meu tronco abaixado (como se estivesse chamando ela) ou levantado (como quando faço o bloqueio). Funcionou na hora. Aí fiz outro teste, usando a voz dizendo: – Prá fora (para ela sair de perto da mangueira), mas mantendo o tronco abaixado. Ela ignorou a minha voz, seguindo a indicação da minha postura e veio correndo brincar com a água.
Mesmo eu já tendo treinado o ‘Prá fora’, a linguagem corporal é muito mais forte para eles. Por isso que com freqüência se vê o dono pedindo uma coisa com a voz e outra com o corpo, e o cão fazendo exatamente o que o corpo do dono está pedindo (e ele não sabe). Adivinha de quem é a culpa?